A descolonização do afeto e rompimento com a monocultura
Quando tratamos sobre o conceito de amor e afetividade, a revolução pode ser palpável.
É certo que o processo de colonização do Brasil trouxe com os invasores não só a ocupação territorial, a exploração de recursos naturais e o uso de excessiva desumanização e violência, mas igualmente trouxe a perpetuação da mentalidade colonial.
Mesmo com o fim do colonialismo, a colonialidade permaneceu no solo tupiniquim responsável pela estruturação e padronização da lógica de avanço, modernidade e verdade. A lógica colonial enraizou-se nos afetos, no modo de vida, na organização social e arquitetônica.
Vem da colonialidade a ideia de que, para transmitir seriedade ou formalidade, existem vestimentas corretas para cada ocasião, ou de que para que haja um reconhecimento de uma família e religião corretas, é necessário que sejam frutos importados do colonizador, ou de que o modo de cultivar a terra correto é a exploração finita de riquezas, do agronegócio, sem reconhecer a natureza como componente essencial para a vida humana, por exemplo.
Nesse sentido, é possível compreender a aversão ao modo de vida dos nativos que aqui estavam e dos escravizados. Os exemplos, na verdade, não faltam, uma vez que a mentalidade colonial representa a ordem e uma falsa universalidade.
Frantz Fanon, ao conceituar o processo de descolonização, esclarece de pronto que se trata de um estado de desordem e bagunça. Nesse sentido, questionar e resistir à colonialidade representa uma ruptura verdadeiramente subversiva com todo os ensinamentos e perspectivas de interpretar o mundo fora do alcance do colonizador.
Quando tratamos sobre o conceito de amor e afetividade, a revolução pode ser palpável.
A população negra, por exemplo, invisibilizada e oprimida pelo ideal colonial, pode experienciar grande solidão. Amor e afeto parecem temas distantes dentro de um grupo que tanto sofre nos obstáculos da vida, mas não é e nem deve ser.
A psicóloga indígena do povo Guarani, Geni Núnez, dedica-se a pesquisar sobre gênero, raça e decolonialidade buscando pensar e compartilhar outras práticas de cuidado, relação e vínculo para além do pensamento europeizado, cristão e colonial.
Seus estudos versam sobre um paralelo entre a forma como nos relacionamos com outras pessoas e a natureza. Nas suas pesquisas, compreendeu que a monocultura não representava apenas um modo de cultivo da terra, mas do pensamento, levando-a cunhar a monocultura dos afetos.
Em sua tese, propõe um olhar as relações amorosas menos excludentes, que não sejam baseadas na ideia de posse, traçando um paralelo com a floresta que, na visão indígena, não se trata de propriedade de nenhum grupo, mas de uma existência diversa e concomitante descolonizando os afetos e o modo de enxergar o mundo.
Nesse aspecto, romper com a monocultura dos afetos em coletivo, pode trazer benesses revolucionarias na maneira com que encaramos os relacionamentos e a normalização de violências ideias de propriedade, posse sobre o outro e outras questões.
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