Bem-Estar Financeiro e Negritude
Até os dias de hoje a relação entre pobreza, acesso ao mercado de trabalho e bem-estar financeiro estão distantes do que deveria ser saudável e efetivo à população negra.
O processo de colonização no Brasil afetou diretamente a organização estrutural de nossa sociedade em todos os aspectos. O racismo, inerente a esta estrutura, é fator determinante para alçar desvantagens na vida daqueles que sofrem com a discriminação e vantagens para aqueles que se beneficiam dessa estrutura.
É sabido que, após a abolição da escravização em solo brasileiro, as oportunidades de crescimento e reestruturação de pessoas negras foram fortemente minadas por campanhas, que não visavam o empoderamento deste povo, mas tinham como objetivo o crescimento de fábricas, exportação de maquinário, construção de cidades e busca por lucro desenfreado, para atuar em consonância com a revolução industrial que influenciou no fim do Brasil colônia.
Até os dias de hoje a relação entre pobreza, acesso ao mercado de trabalho e bem-estar financeiro estão distantes do que deveria ser saudável e efetivo à população negra.
Segundo os dados do relatório de Desenvolvimento Humano 2021/2022, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil figura em 14º lugar no ranking de países mais desiguais do mundo. De acordo com dados do IBGE de maio de 2022, a parcela de 1% dos brasileiros mais ricos ganha uma renda média mensal 32,5 vezes maior que o rendimento da metade mais pobre da população do País.
Em estudo divulgado pelo IBGE em novembro de 2022, intitulado Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil Em 2021, pudemos observar que considerando a renda de U$$5,50 por dia, a taxa de pobreza entre pessoas brancas era de 18,6%. Enquanto entre pretas o percentual disparou para 34,5%, enquanto para pardas foi a 38,4%, evidenciando que a taxa de pobreza entre negros é duas vezes maior que a de brancos no Brasil.
Ainda sobre a desigual distribuição de renda, verificamos por meio de estudo publicizado pela Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial, com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que o rendimento médio do trabalho da mulher negra em 2022 foi de R$ 1.771,19, abaixo do homem branco (R$ 3.574,07), da mulher branca (R$ 2.746,75) e, também, do homem negro (R$ 2.170,48), demonstrando que o salário médio de uma mulher negra no Brasil equivale a 46% do ganho de homens brancos.
Contudo, são as mulheres negras as principais responsáveis e contribuidoras de impostos em nosso país. Uma das explicações para tal feito é que a arrecadação nacional de tributos está mais concentrada na cobrança de impostos sobre compras de mercadorias e contratação de serviços, que consomem uma parte maior do rendimento dessa população na comparação com brancos.
Ainda no campo do gênero, a possibilidade de autonomia financeira pode trazer liberdade para romper ciclos de violência e exclusão sistêmica, uma vez que numa sociedade desigual como a nossa, os bens materiais podem oportunizar realidades sequer sonhadas por certas camadas populacionais como acesso à educação, saneamento básico e alimentação.
Nesse aspecto, o debate sobre bem-estar financeiro desta população perpassa pela complexa e densa responsabilidade de traçar rotas coletivas contra a desigualdade visando não só a emancipação financeira, mas o exercer, recuperar e efetivar a dignidade inerente a pessoa humana.
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