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28 de abril de 2025 | Publicado por: Feminismos Plurais

Diáspora Africana: diáspora e modernidade

Pensar a Diáspora é, sobretudo, valorizar o legado africano não como um passado distante, mas como parte fundamental do que somos.

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A Diáspora Africana pode ser categorizada como um dos fenômenos mais profundos e duradouros da história mundial. Quando falamos dela, nos referimos ao deslocamento forçado – inclusive para o Brasil – de milhões de africanos entre os séculos XVI e XIX, , e do resultado do sistema escravista que abasteceu as colônias europeias nas Américas.

Contudo, pensar na Diáspora como algo “do passado” traz uma limitação que não lhe cabe. Sua altivez se transfigura num processo cultural, político e social que se reflete permanentemente em nossa cultura todos os dias, seja pela linguagem, modos ou costumes.
Nosso país recebeu mais de quatro milhões de pessoas escravizadas da África e com este contingente, também chegaram visões e entendimentos de mundo. Certamente, um dos maiores atos de resistência do povo escravizado foi manter viva, ainda que cativos, suas manifestações culturais, repassando saberes ancestrais.

A pensadora Lélia Gonzalez, uma das vozes fundamentais para compreendermos a força dessa presença no Brasil contemporâneo, desenvolve o conceito de “pretuguês”, evidenciando como a influência diaspórica africana se faz presente em nossa língua.

O “pretuguês” é, para Lélia, um modo de falar que carrega a musicalidade, os ritmos e os modos de pensar afro-brasileiros — uma verdadeira resistência linguística que denuncia o racismo linguístico presente na valorização da norma culta como única forma legítima de expressão. Com isso, ela nos convida a ver a Diáspora não como um fenômeno morto e ultrapassado, mas como uma força criadora, produtora de cultura e identidade.

Assim, pensar a Diáspora Africana na modernidade brasileira é reconhecer que o Brasil carrega, em suas contradições e riquezas, marcas profundas desse processo.

É sabido, igualmente, que o racismo a brasileira possui suas peculiaridades e internalizações difíceis de se desvincular, mas sua condição estruturante não pode servir de base para minar ou limitar a contribuição africana em nosso existir. Pensar a Diáspora é, sobretudo, valorizar o legado africano não como um passado distante, mas como parte fundamental do que somos — e do que ainda podemos construir enquanto sociedade.