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28 de outubro de 2024 | Publicado por: Feminismos Plurais

Intelectualidades Negras

O conceito de “intelectualidade negra” está em constante movimento e modificação.

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O conceito de “intelectualidade negra” está em constante movimento e modificação a partir da presença do negro nos espaços de produção. Visando atrair para si o protagonismo e a ruptura com o racismo epistêmico, pesquisadores negros tem reivindicado o reconhecimento das produções culturais e da intelectualidade preta. No imaginário popular brasileiro, a figura de um intelectual frequentemente está associada a uma pessoa branca, sudestina e assídua produtora de livros, textos e artigos relacionados ao meio acadêmico.

Uma das explicações para tal está enraizada no nosso processo de formação de nação; a revolução veio por camadas sociais privilegiadas em detrimentos de outras. A escravização e exploração da mão de obra negra, por exemplo, continuou mesmo quando o Brasil se tornou independente da Coroa Portuguesa em 1822.

Para as elites, o país se tornou “moderno”, mas o negro foi mantido em situação de dominação e subordinação. Após a abolição, a transformação deste lugar foi penosa, uma vez que permaneceu num espaço como objeto e propriedade incapaz de pensar por si mesmo.

Neste sentido, as produções intelectuais, em seu início, não debatiam as situações vivenciadas pelas camadas mais necessitadas da população, exploravam teorias eurocêntricas onde a ciência e o objeto de pesquisa ocupavam um papel de neutralidade apolítica no debate que se propusesse a construir, em dissonância com o vivenciado pelo povo brasileiro.

Mas será que ser intelectual é se resume a estar nas academias, produzindo escritos?

O desafio de pensar a intelectualidade negra parte justamente da necessidade de desconstruir o poder hegemônico branco como único produtor de conhecimento. Em 1989, ocorreu o 1º Encontro de Docentes, Pesquisadores e Pós-Graduandos Negros das Universidades Paulistas, realizado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Unesp. Esse evento contou com a palestra “O intelectual negro no Brasil”, proferida pelo professor e intelectual Milton Santos.

O pensador deixa claro que o negro sempre esteve na produção intelectual e cultural do cenário nacional. Um conhecimento que não deriva somente do meio acadêmico, mas de quem somos, livre da subordinação e apropriados da coragem de se manter independente e livre de hegemonias.

A produção negra acadêmica ou cultural deve, então, ser interpretada como produção intelectual que demarca a contribuição negra da interpretação do mundo, que muitas vezes está presente num poema, numa música, nas ruas, nos movimentos sociais, nos terreiros e nas comunidades, que são lugares de produção de conhecimento.

A intelectualidade negra vem para demarcar a ausência de neutralidade e reforçar seu pensamento político, engajado e de pertencimento.

Se interessou pelo tema? Esse será o próximo tema da nossa roda de conversa que vai acontecer na segunda-feira no Espaço Feminismos Plurais, no dia 28/10 a partir das 14h, na Avenida Chibarás 666, Moema. Te esperamos!