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12 de julho de 2024 | Publicado por: Feminismos Plurais

Quem cuida de quem cuida?

O cuidado atribuído às mulheres é encarado como parte de sua natureza feminina, e o trabalho que o acompanha é muitas vezes relacionado a um carinho, ao invés de ser compreendido como uma rotina exaustiva de trabalhos domésticos.

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O cuidado é essencial para a vida humana. Em algum momento da vida, todo ser humano depende do cuidado de uma outra pessoa. Agora, se pararmos para pensar na figura que desempenha o papel do cuidado – seja conosco ou com outros em volta –, a figura em mente é a de uma mulher? Na maioria das vezes a resposta para essa pergunta é sim, já que às mulheres é atribuída a responsabilidade social do cuidado com seus lares, filhos e familiares.

O cuidado atribuído às mulheres é encarado como parte de sua natureza feminina, e o trabalho que o acompanha é muitas vezes relacionado a um carinho, ao invés de ser compreendido como uma rotina exaustiva de trabalhos domésticos. Quem cuida sabe que não basta saber fazer e que para além da sobrecarga física, a demanda emocional é também muito intensa; o cuidado com pessoas, seja um ente querido ou não, envolve uma conexão emocional imensa.

Apesar de a exaustão ser um sentimento compartilhado por muitas mulheres, e o cuidado ser cobrado de todas em determinado nível, a trilha do cuidar é solitária. A responsabilidade que é naturalizada gera culpa na mulher que se sente sobrecarregada, o medo de julgamento muitas vezes a impede de compartilhar suas experiências com outras pessoas ao seu redor e pouquíssimas vezes uma ajuda espontânea lhe será oferecida.

Mas, se todos precisam de cuidados, quem cuida de quem cuida?

Ser cuidada, muitas vezes, vem do simples afeto e da escuta atenciosa. Vem também dos momentos em que a mulher pode ser outra que não a mulher cuidadora, em que pode exercer suas atividades de gosto pessoal e dos momentos em que pode estar com outras para compartilhar suas experiências.

Cuidar também se relaciona com a retribuição nos momentos em que elas mais necessitam. Não são raros os depoimentos de mulheres que são abandonadas, afastadas e rechaçadas quando são diagnosticadas com alguma doença. Ou seja, quando mais precisam desse cuidado externo, são abandonadas por seus companheiros e familiares, como algo descartável.

O cuidado com quem cuida também vem do compartilhamento de tarefas! Não se trata de uma “ajuda”, mas de uma efetiva divisão que possibilite que as mulheres sejam mais do que as responsáveis pelas atividades domésticas; se trata de uma desnaturalização da obrigação do cuidado exclusivo à mulher. Muito do que se chama de cuidado e é atribuído ao carinho é, em realidade, uma atividade doméstica que pode ser exercida por qualquer pessoa.

Tudo isso pode ser promovido quando se tem rede de apoio. Ninguém é responsável exclusivo por todas as atividades que incluem o cuidado, e ter uma rede de apoio é essencial para esse compartilhamento e para que as mulheres não se sintam tão solitárias dentro de seus próprios lares.

Sim, a rede de apoio inclui toda a família, mas também há uma rede de apoio que pode ser paga ou encontrada; serviços de cuidadores, casas de acolhimentos, creches, escolas e, até mesmo, nos serviços de acolhimento, rodas de conversa e atendimento terapêutico. Inclusive, muitos serviços de cuidado e até mesmo de acolhimento, são oferecidos de forma gratuita nos municípios, estados pelo governo federal.

Quem cuida muitas vezes não é cuidado, mas essa é uma reflexão social e interna necessária para mudar essa concepção da mulher como cuidadora natural.

Gostou do conteúdo? Esse será o tema da nossa roda de conversa que acontecerá na próxima segunda-feira, no Espaço Feminismos Plurais, no dia 15/07, a partir das 14h.

Depois da roda você poderá esclarecer suas dúvidas relacionadas a direito do trabalho, previdenciário e de família individualmente. Espaço Feminismos Plurais e LBS Advogadas e Advogados: seu lugar de fala, seu lugar de direitos. Te esperamos a partir das 14h, na Avenida Chibarás 666, Moema.