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01 de julho de 2024 | Publicado por: Feminismos Plurais

Maternidades

Ser mãe deveria ser uma escolha desde o primeiro momento, nunca uma obrigação social ou reprodutiva. 

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A maternidade é uma pauta feminista por muitos motivos; apesar de nem todas as mulheres serem mães e nem todas as pessoas que maternam serem mulheres, o “maternar” é pauta central na vida de todas e deveria ser central a todos os feminismos.

Para as mulheres que desejam se tornar mães, existe a pressão de serem perfeitas e darem conta de tudo. Mulheres que não querem ser mães convivem com julgamentos de “não ter se cuidado” e com a cobrança para exercer a maternidade… As próprias presunções e julgamentos do que é a maternidade são muito vinculadas à concepção machista de como deve ser uma mãe. 

Nem toda maternidade é reconhecida como legítima no seio social; o “padrão ouro da maternidade”, como leciona a psicanalista Vera Iaconelli, exige uma mãe modelo; cis gênero, de determinada cor, classe social e orientação sexual. Ao mesmo tempo em que esse modelo gera uma exclusão de outros tipos de família, produz também a intolerância por aí afora, criando um parâmetro quase que irreal de qual é a “maternidade correta”.

Ser mãe deveria ser uma escolha desde o primeiro momento, nunca uma obrigação social ou reprodutiva. 

O cuidado atribuído às mães muitas vezes pode ser desempenhado por outras pessoas de sua rede de apoio e outros membros da família, mas acaba por sobrecarregar somente as mães. 

O que diferencia a maternidade de qualquer outro cuidado é o amor e o vínculo único entre a mãe e seus filhos, amor esse que pode surgir no nascimento, mas também com o aprofundamento dessa relação ou no encontro das adotantes com seus filhos. O instinto materno não é algo natural da mulher, não vem de nascença e tampouco é imutável.

O debate sobre maternidades nasce antes mesmo da mãe, com a garantia de acesso à direitos reprodutivos, na equidade da divisão do trabalho, na possibilidade de gerar e parir uma vida sem violência durante e após o gestar e de acolhimento durante as adaptações das novas vidas que surgem com o nascimento da mãe e de seu filho.

Como colocam Lara Marcela Bertasso Silva e  Maria Espírito Santo Rosa Cavalcante, o padrão de uma mulher mãe como um mero produto da norma da maternidade, seja pela categoria:  tempo,  idade,  número  de  filhos  ou  raça,  é  marcante. Nesse sentido, o que ocorre no conto Olhos d’Água, de Conceição Evaristo, propõe uma reflexão acerca do contexto ao qual a protagonista vive, marcado pelo serviço árduo para sobreviver, em que a mãe, muitas vezes, utilizava da imaginação para sanar a dor da fome: “um dia, brincando de pentear boneca, alegria que a mãe nos dava quando, deixando por uns momentos o lava-lava, o passa-passa das roupagens alheias e se tornava uma grande boneca negra para as filhas […]” (Evaristo, 2015, p.16)

A maternagem é um processo não individualizado e que existe em um contexto sócio-histórico mais elaborado. A autora confronta a luta diária de uma mulher negra, pobre e mãe solo, que precisa enfrentar condições precárias e adversidades constantes para sustentar suas sete filhas. 

Para sobreviver como mãe solo negra não existe tempo para entretenimento, exceto quanto ela utiliza do último recurso, a brincadeira da nuvem e da boneca, para tentar “retirar” a fome de suas crias: “tudo tinha de ser muito rápido, antes que a nuvem derretesse e com ela os nossos sonhos se esvaecessem também” (Evaristo, 2015, p. 17). Já no segundo momento, a mãe finge ser uma grande boneca  para  que  as  filhas  pudessem  esquecer  um  pouco  das violências que sofriam naquela situação

(Para quem gostou do texto e quer ler, segue anexo a sua íntegra!)

Gostou do conteúdo? Esse será o próximo tema da nossa roda de conversa que acontecerá na segunda-feira no Espaço Feminismos Plurais, no dia 01/07, a partir das 14h. 

Depois da roda você poderá esclarecer suas dúvidas relacionadas a direito do trabalho, previdenciário e de família individualmente. Espaço Feminismos Plurais e LBS Advogadas e Advogados: seu lugar de fala, seu lugar de direitos. Te esperamos a partir das 14h na Avenida Chibarás, 666 Moema.